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ESTUDOS DA LINGUAGEM (cont.)

Posted by Telles on 04:23 in
LINGUAGEM E PERSUASÃO

Referências:
CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuasão. 3. ed. São Paulo. Editora Ática, 1988.
ORLANDI, Eni P. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. Campinas: Pontes, 1996.

  • O termo persuasão é utilizado cotidianamente (sobretudo quando se trata do discurso publicitário) aludindo a um tipo de comportamento discursivo cujo objetivo é "impor ideias".
  • A palavra ganhou conotações que a colocaram no campo semântico de termos como “convencer”, associando-a a idéias como “mentira”, “engodo” ou “manipulação”.
  • Os estudiosos do discurso sugerem tomar a persuasão como um procedimento resultante de exercícios da linguagem, com o objetivo de formar atitudes, comportamentos ou idéias.
  • O termo persuadir vem do Latim persuadere (per+suadere = aconselhar). Para os teóricos, nenhuma formação discursiva está isenta de caráter persuasivo.
  • Mas é claro que percebemos uma diferença muito grande entre um texto informativo, uma discussão sobre determinado tema e formações discursivas como BEBA COCA-COLA!.
  • Há, portanto, graus diferentes de persuasão, que dependem da natureza estrutural ou funcional de cada discurso.
Eni Orlandi, em sua teoria geral da Análise do Discurso, propõe três categorias gerais de formações discursivas, conforme o grau de persuasão.
Para desenvolver essa tipologia geral, observou-se a participação do referente entre os interlocutores (emissor e receptor) de uma mensagem.

TIPOLOGIA TEXTUAL (OU MODALIDADES DISCURSIVAS), CONFORME O GRAU DE PERSUASÃO
1) Discurso lúdico (grau mínimo de persuasão)

  • O receptor se apropria da realidade-referente, submetendo a transmissão a fatores aleatórios ou às necessidades da própria linguagem.
  • O discurso tende à mudança, à polissemia (multiplicidade do sentido).
  • A possibilidade de múltiplas interpretações concede ao receptor maior participação no discurso.
- Por sua característica polissêmica, isto é, por sua abertura a múltiplas interpretações, favorecendo maior participação do receptor, o discurso artístico (literatura, filmes, música etc.) é dado como exemplo dessa categoria.


As latas da Sopa Campbell se tornaram tema de recriação artística, desde que Andy Warhol produziu sua famosa série, em 1962. 

As crônicas constituem um bom exemplo desse tipo de discurso no espaço do jornal. Por seu caráter literário, esse tipo de texto oferece mais abertura ao receptor. Como exemplo, a crônica Sem muita novidade (João Ubaldo Ribeiro, O Estado de S. Paulo, 19/02/2011).

 2) Discurso polêmico (grau médio de persuasão)

  • O sentido é construído pela reversibilidade dialógica entre os pólos interlocutores da linguagem.
  • Neste caso, o discurso apresenta tensão entre a paráfrase e a polissemia, entre a identidade e a multiplicidade.
  • Essa tensão tende à reorganização da linguagem.
  • A cena discursiva polêmica pode ainda se constituir no confronto de duas posições autoritárias.
- Os exemplos dados para essa categoria são as defesas, as aulas e quaisquer situações em que posicionamentos distintos estejam em confronto. Ainda que os discursos em jogo sejam autoritários, esses exemplos são considerados polêmicos justamente por manterem espaço para a divergência.

O texto intitulado "Dois pesos...", de Maria Rita Kehl, também publicado pelo Estadão, em 02/10/2010, abordou e protagonizou dois casos que exemplificam uma das formas de circulação do discurso polêmico em um jornal. Isso porque a publicação teve consequências que deixaram clara uma divergência de opiniões (daí porque se diz que a repercussão do texto "gerou polêmica").

3) Discurso Autoritário (grau máximo de persuasão)
  • O emissor impõe as suas necessidades de transmissão à realidade-referente da linguagem - isso reduz (e em alguns casos neutraliza) o espaço de intervenção do receptor.
  • O discurso tende à “paráfrase”, isto e, à repetição do sentido e da ordem -subjacente à sua transmissão.
  • Quando o discurso se apresenta na modalidade autoritária, a mensagem cumpre função conativa da linguagem.
- São exemplos os sermões, as orações e o discurso publicitário. Do ponto de vista estrutural, esses tipos de discurso impõem uma direção interpretativa ao receptor, que só pode participar do texto na condição de objeto (e não de co-sujeito).

Nesse slogan criado à época da Ditadura Militar (governo de Emílio G. Médici), a linguagem é autoritária, cumprindo a função conativa da linguagem. O receptor não tem espaço para participar do discurso, senão como objeto (pode apenas concordar OU discordar, mas não modificar a mensagem).

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